Trobadour Solitaire
Não é necessário sair do país para se dar conta do provincianismo que impera em Salvador. Uma metrópole que é considerada como tal por causa da sua riqueza acumulada nos anos 70 e 80 e igualmente por sua imensa população pobre, senão poderíamos considerá-la como um feudo, ou melhor, uma fazenda.


Salvador é o único lugar onde você é recepcionado por bambus após ter pego as bagagens no aeroporto cujo nome é o do filho do ex-eterno dono desses 70 mil hectares de terra localizados ao nordeste do país. Ainda que a população seja trabalhadora, ela age como um simples caipira que só precisa de pinga, forró e um paupérrimo salário para viver e ser feliz. Política, voto ou administração pública são vocábulos chineses para a maioria da população soteropolitana.

Para eleger, votar em alguém basta que ele(a) ou sei la o quê, diga que representará o bairro, uma classe social ou fazer festa antes do comício. É o suficiente. Experiência política, formação política, capacidade de gestão são outras palavras completamente desnutridas de semântica para tal população.

70% dos quase três milhões de pessoas que moram em Salvador se servem dos ônibus (navios negreiros pós-modernos?) para trabalhar. O transporte público em si só serve para isso: levar os peões para a luta diária de cada dia no centro da fazenda.

A burguesia, ou melhor, aqueles que se utilizam de um status de burguesia se escondem na Barra, Ondina e Itaigara e temem que um dia tais peões que, ou trabalham nas suas casas ou constrõem os apartamentos onde eles nunca poderão morar, continuem circulando entre as calçadas durante a noite e impeçam que os proprietários do local guardem os seus carros.

Na fazenda, as atividades culturais se resumem à festas de camisas que nos convidam para descer não sei para onde, arrastões e festas religiosas que de sagrado nada mais possui. Se há alguma outra atividade ou ela não é bem divulgada ou ela se concentra em pequenos bairros pseudo-intelectuais como Graça e Barra. Todos sabemos que a verdadeira burguesia esta além do Iguatemi, na Paralela, ou melhor, daquilo que antes era a mata Atlântica.

Para que eu não me esqueça há sim uma atividade constante: ir à praia, carnaval e ao Festival de Verão que esse ano conseguiu a proeza de por Alanis Morisette e Psirico juntos!

Esse artigo poderia ser longo, se o objetivo dele fosse enumerar as inúmeras razões pelas quais Salvador é uma fazenda, mas o artigo busca apenas fazer com que o leitor soteropolitano saiba que mesmo morando em uma fazenda, ele consegue manter a cidade viva e humana ( sim humana, mesmo com os 2 mil mortos assassinados ao ano ou um jornal que publica uma nota dizendo que não houve mortes em 12 horas.), pois para se dar conta dessa vivacidez da cidade é necessário cruzar os arames que cercam Salvador.

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